'Nós estamos com medo da chuva', diz dona de casa atingida pela enchente em Rosário do Sul

Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
Nilza Conceição, 58 anos, e o marido, Alaor da Silva, 50, já passaram por outras enchentes e temem sair de casa

"Nós estamos com medo da chuva. O rio até baixou, mas com tudo que caiu de água hoje (ontem), estamos preocupados. Não precisamos sair de casa nem queremos, porque já saímos em outras enchentes. Estou com medo disso".

O relato foi dado, ontem, pela dona de casa Nilsa Oliveira Terezinha Conceição, 58 anos, moradora da Rua Rio Branco, em Rosário do Sul, cidade que tem 600 pessoas desalojadas no ginásio da Escola Oliveiro Thaddeo. Abaixo, nesta reportagem, veja imagens da situação das famílias desalojadas.

Veja a situação dos rios na região, que voltaram a subir na quinta e como ajudar os atingidos

A casa de Nilsa fica a poucos metros do Rio Santa Maria, que, conforme a última medição do Corpo de Bombeiros, feita às 13h de ontem, estava 7m16cm acima do nível normal. Desde quarta-feira, o rio baixou cerca de um metro.

A chuva, que havia parado nos últimos dias, voltou com intensidade ontem. De acordo com a prefeitura, a precipitação ultrapassou os 80mm na cidade. Somente na primeira quinzena do mês, o acumulado já chega a 400mm.

- Esperamos que a chuva de hoje (ontem) não atrapalhe no nível do rio, que vem baixando nos últimos dias. Se chover mais, a situação tende a piorar - relata o comandante do Corpo de Bombeiros de Rosário do Sul, sargento Márcio Rodrigo Lopes Teixeira.

Famílias que estão fora de casa foram abrigadas em ginásio

A cheia do Rio Santa Maria não permitiu que as cerca de 600 pessoas que estão fora de casa retornem as suas residências. Dessas, cerca de 45 famílias estão abrigadas no Ginásio da Escola Municipal Oliveiro Thaddeo. Quem não foi para lá está abrigado em casas de parentes e amigos. Todos estão recebendo auxílio da prefeitura, como alimentação, além da distribuição de doações feitas pela comunidade.

A situação na zona rural também continua preocupando. Ao todo, 1,5 mil pessoas estão ilhadas em 19 localidades, como em Farrapo, Vista Alegre e Mato Seco. Os prejuízos na lavora de soja são estimados em até 50%. Já na de arroz, beiram os 30%.

ESPERANÇA
Na última quarta-feira, o Diário mostrou a situação da empregada doméstica Clea Terezinha Araújo Medeiros, 54 anos. A casa onde ela mora estava parcialmente inundada pelo Rio Santa Maria, com todo o primeiro andar inacessível. Na tarde de ontem, mesmo com a chuva forte que atingiu a cidade, o rio recuou, e Clea estava esperançosa em retomar a rotina da família.

- A parte de baixo estava toda tomada pela água. Quando baixou, já limpamos e já dá para usar de novo. Se Deus quiser, essa chuva vai parar e vamos conseguir usar nossa casa como sempre - espera Clea.

JOGOS, TELEVISÃO E REFEIÇÕESNara Rosane de Castro (à dir.), 53 anos, junto de familiares, assiste à TV instalada no centro do ginásio da Escola Oliveiro Thaddeo para ajudar a passar o tempo. Até ontem, 45 famílias estavam alojadas no local, onde há regras para a boa convivência entre as pessoas

Desde o último fim de semana, 45 famílias estão alojadas no Ginásio da Escola Municipal Oliveiro Thaddeo, em Rosário do Sul, recebendo assistência da prefeitura. Com todo esse tempo fora de casa, o que era para ser apenas uma moradia provisória já está virando rotina. Mas, para a convivência ser harmoniosa, existem regras. Tudo é definido em uma reunião que acontece diariamente entre as famílias e a prefeitura - a hora de se alimentar, de dormir e até de as crianças jogarem futebol dentro do ginásio.

- O pessoal está tranquilo. Fazemos uma reunião ao dia para ver o que todos querem decidir. Temos que organizar as coisas para eles. Conseguimos, também, uma TV para dar maior conforto às famílias - conta a assistente social da prefeitura Elida Maciel.

Com o retorno das chuvas, ontem, a volta das famílias para casa precisou ser adiada.

- Estávamos trabalhando para que retornassem hoje (ontem), mas não deu. Agora, é esperar passar para ver quando vamos conseguir - diz Elida.

A dona de casa Diovana Teixeira Siqueira, 21 anos, está no ginásio desde sábado, junto das duas filhas. Segundo ela, apesar do bom tratamento que as famílias estão recebendo, todos querem que o tempo passe rapidamente para que possam ir para casa.

- O bom mesmo é a gente estar em casa, né? Todo mundo nos trata bem aqui, tem refeição, tem tudo. Está bem organizado, mas quero voltar logo - afirma.

No ginásio, funcionários da prefeitura distribuem quatro refeições por dia, além de encaminhar às famílias mais necessitadas as doações que são feitas pela comunidade.

CHUVA CONTINUA
Conforme o meteorologista Caio Guerra, da Somar, a previsão é de que a chuva continue até a noite de hoje, com precipitação média de 30mm na região. 

Guerra informa que há uma frente fria atuando sobre o Rio Grande do Sul, o que ocasiona as chuvas constantes. Amanhã, a chuva perde intensidade e haverá pancadas isoladas. A partir de domingo, deve voltar o tempo firme na região.

EM EMERGÊNCIA

O governador Eduardo Leite também assinou, ontem, os decretos de situação de emergência de mais três municípios afetados pelos temporais, entre eles, São Francisco de Assis. Os outros são Dom Pedrito e Quaraí. Somados a Rosário do Sul, Alegrete, São Gabriel e Uruguaiana, cujos decretos foram homologados na terça, já são sete as cidades que poderão contar com a ajuda do do governo do Estado.

Os municípios contam com prazo de 15 dias para apresentar relatórios e laudos que comprovem a existência de danos materiais e humanos.